..Italva
- Estado do Rio de Janeiro ........................................................................História
do Município de Italva - Página 1 |
Prepare-se
para fazer uma agradável viagem pelos caminhos da história
de Italva, percorrendo uma pesquisa feita ao longo de quase 20
anos e que mesmo assim não se completa nesta etapa. Muitos
fatos ocorridos ainda serão acrescentados e novos fatos
acontecerão e merecerão compor este documentário.
Os dados fazem parte do Volume I do Almanaque Histórico
de Italva / 2000, elaborado por Genilson de Sousa Leite, responsável
também por este trabalho.
Não se atente para detectar erros que por certo devem existir
pois serão corrigidos ao longo das correções,
mas se ligue nos fatos e nas narrativas que não admitem
conserto, eis que já são eternizados em nossa história.
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A história de Italva (na foto abaixo em 1952)
O
INÍCIO - ORIGEM
Toda cidade tem sua origem
muito mais profunda do que muitos pensam, conhecendo apenas os primeiros
passos de seus desbravadores dentro de seu próprio território. Antes de
conhecermos esta parte, é bom lembrar que vários fatores históricos aconteceram
para que se instalasse o atual Município de Italva. A começar pelo próprio
Descobrimento do Brasil que é a raiz mestra de todas as cidades atuais.
Este capítulo porém, todos nós conhecemos desde o primário e constam em
nossos primeiros livros de escola. Antes da chegada dos portugueses a
este continente imenso, há menos
de 60 Km daqui a movimentação já era intensa com a presença
dos índios Tupí-Guaraní, Goitacá e Purí.
E é exatamente esta distância que vamos percorrer até atingirmos o desbravamento,
a colonização e o desenvolvimento de nossa hoje Italva. Como falar desta
sem sabermos a origem de sua célula-mater que é Campos se comprovadamente
existem fortes laços de cultura e costumes entre esses povos desde os
mais primitivos ? Antes de ganharmos influências que até hoje perduram,
trazidas pelos imigrantes que descobriram a já então estabelecida Santo
Antônio das Cachoeiras, todos que aqui pisaram, tiveram que seguir a trajetória
dos colonizadores no sentido Litoral-Interior e sofrerem as adaptações
às novas condições encontradas a cada
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região, tendo que muitas das vezes, implantar as suas próprias a cada
uma. Assim, Campos dos Goitacazes era Villa da Rainha em 1539, quando
começou a produzir açúcar e gado introduzidos por Pero de Góis, o primeiro
europeu que tentou colonizar a região. Ele ganhou a Capitania de São Tomé
do Cabo, doada pelo rei D. João III como presente numa batalha contra
piratas. No início do Século 17, seu filho, Gil de Góis da Silveira, fundou
a Vila de Santa Catarina de Mós, mais tarde Parahyba do Sul. Em 19 de
agosto de 1627, os sete capitães Miguel Aires Maldonado, Gonçalo Correia,
Duarte Correia, Antônio Pinto e Miguel Riscado, ganharam a capitania,
cujas terras o reino português considerou abandonadas. A missão deles
era abastecer o Rio de Janeiro com gados. Mas também deixaram as terras
de lado, que passaram a pertencer ao general Salvador Correia de Sá Benevides,
governador do Rio de Janeiro e o primeiro da Dinastia dos Assecas, que
dominaram por 79 anos a população campista. A heroína Benta Pereira reagiu
com bravura contra a exploração e liderou um levante até a Capitania do
Parahyba voltar às mãos da Coroa Portuguesa. Em 29 de maio de 1677 passou
a ser Vila de São Salvador dos Campos dos Goitacazes. Cinco anos após
a elevação a cidade, começou a ser traçada urbanisticamente, 1840. São
inúmeros prédios centenários que ainda hoje revivem o passado dos casarões.
Ex.: Solar da Baronesa, entre outros. Na época de sua Emancipação, Campos
tinha um território três vezes maior que o atual, abrangendo as áreas
hoje ocupadas pelos municípios de São Fidélis, Cardoso Moreira, Itaperuna
e ITALVA, que vamos conhecer agora.
Parte 1 - INTRODUÇÃO
Feche
os olhos por alguns instantes. Mentalize calmamente uma paisagem
verdejante, entremeada de densas matas e rasteiras paisagens.
Coloque em meio a tudo isso um côro agudo de cântigos lindos e
um revoar vez por outra de manadas de pássaros e patos selvagens
decolando de diversos aguados. Deixe uma leve monção acariciar
toda essa visão e permita por alguns instantes que o silêncio
se quebre ante um passo qualquer de quem quer que seja. Assista
agora o horizonte se transformando com os ultimos raios de sol
se pondo deixando prá tráz um arrepio de solidão. Tente olhar
para o céu e imagine uma ou várias constelações brilhando num
canto escuro envolto a uma cortina de galhos viçosos. Assista
a lua nascendo e se espreitando nos espelhos de aguas claras e
calmas, de vez em quando incomodadas e sacudidas por folhas ao
leo. Sintonize uma orquestra de coachares e trinados vindos de
todos os lados e ecoando pelo infinito. Quem sabe você não pode
também acrescentar uma turva e espessa linha de fumaça brotando
de alguma chaminé de uma palhoça ladeada por laranjais e em cujo
quintal trava-se um duelo de galos mestiços ? Pois acrescente.
Agora acorde. Abra os olhos. Daqui prá frente, a história é prá
valer.

Final da rua Cel. Luis Salles, no bairro Morro
Grande - 1948
Buscamos no texto acima mostrar, baseados nos aspectos atualmente
encontrados, um retrato da origem de nossa terra natal. Nenhuma
obra foi encontrada que versasse sobre esse tema. Ousamo-nos,
mediante
pesquisas e estudos climatológicos e geológicos, traçar essa descrição
imaginária, porém pouco provável de ser irreal, do que foi o nosso
hoje habitado, explorado e progressista município. Jamais se admitiria
um retrato desse pedaço de chão coberto por uma floresta selvagem,
conhecendo-se atualmente o seu sub-solo ricamente alicerçado por
incontáveis jazidas de mármore e calcáreo. Por outro lado, é fácil
prever a difícil absorção das àguas das chuvas pelo solo e a consequente
formação de lagoas e aguados.
CAHOEIRAS
DO MURIAÉ
Não é nenhuma pretensão sensacionalista imaginar uma palhoça,
um galo doméstico e um desbravador, quando se situa exatamente
em 1850, ou seja, 23 anos antes do reconhecimento dessa terra
como província e sua denominação como Freguesia de Santo Antônio
das Cachoeiras. Isso mesmo. Em pleno regime de Monarquia, três
séculos apenas, depois da descoberta do país inteiro, nascia o
paraíso das cachoeiras do rio Muriaé. Explorado à partir de sua
desembocadura em Campos dos Goitacazes, a primeira impressão deixada
pelo nosso rio foi a de que era um manancial caudaloso. Seus exploradores
o subiram em boas condições de navegação até Cardoso Moreira.
À partir daí, tiveram que prosseguir pelas suas margens desafiados
que foram pelas corredeiras que encontraram no restante do percurso.
Aqui chegando, não tiveram dúvidas: o nome nasceu antes mesmo
que eles atingissem novamente os remansos inofensivos do velho
Muriaé.
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Parte 2 - PERÍODO MONÁRQUICO - PROVÍNCIA
As primeiras referências documentadas de habitação civilizada
na área de nossa hoje Italva, datam do ano de 1891 e constam do
primeiro livro de Escrituras do Cartório local. Livros esses que
foram instituídos após a proclamação da República, em 1889. Até
então, todos os registros eram feitos por instituições religiosas
ou documentadas por papéis que não passavam de comprovantes entre
as partes envolvidas. Como não existem nas nossas atuais instituições
religiosas quaisquer documentos datados do período pré-república
(aliás, nenhuma delas existiam na época), fizemos um minucioso
estudo dos primeiros registros efetuados nos livros de nº 01 destinados
a nascimentos, óbitos e Escrituras, respectivamente, e chegamos
a conclusão lógica de que "Italva" começou a ser habitada por
civilizados em meados do séc. XIX. Seus primeiros habitantes,
a não ser índios tupy-guarani, purís e goitacá, eram latifundiários
que devido a grande extensão de suas propriedades, moravam distantes
léguas enormes uns dos outros, não havendo portanto, por volta
de 1850, qualquer indício de vilas ou aglomerações de moradores

Travessia do rio muriaé de canoas - 1945
nessa época. Cabe ressaltar que nesse período, pertenciam a "Italva"
todos os limites atuais e ainda a área compreendida por Boa Ventura
e Córrego da Chica, entregues mais tarde a São José do Avhaí (Itaperuna)
por motivos que serão abordados adiante. Assim foi que a primeira
Escritura efetuada em nosso Cartório em seu livro nº 01, registra
a venda de uma "sorte" de terras localizada no local até hoje
denominado Águas Claras, próximo à Boa Ventura. O comprador, Sr.
Francisco de Souza Branco, pagou pela aquisição da propriedade
250$000 (duzentos e cinqüenta mil réis) incluindo todas as benfeitorias
existentes, tais como: casas, paiós, lavouras, terras cultivadas
e até ferramentas de trabalho. Dadas essas condições da propriedade
vendida, supõe-se que seu vendedor, o Sr. José Joaquim de Souza
e sua esposa, D. Luzia Pereira de Souza, tenham vivido no mesmo
local por, no mínimo, 30 anos, para deixarem terras nativas em
tão desenvolvidas condições até a data de sua venda que se deu
em 28 de março de 1891. Outro fato que atesta a povoação de "Italva"
em meados do séc. XIX é o registro de Óbito do jovem José Luis
Boviô Filho efetuado no dia 02 de março de 1891, três dias após
sua morte por causa não especificada. No relato transcrito pelo
Escrivão da época, Feliciano Lopes dos Santos Vianna (oficialmente,
o primeiro da Província), ficou claro que o jovem de apenas 17
anos, era muito estimado no local e ali também nascera em 1874.
Não é difícil portanto prever e afirmar que "Italva" por volta
de 1850 já possuía seus próprios habitantes civilizados e não
era mais nenhuma floresta fechada por completo e perdida neste
vasto território nacional.
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Parte
3 - A PEDRA BRANCA
Diversas
obras consultadas e que versam sobre essa região, deixam bem claro
que esse pedaço de chão não era nada despercebido. "Alguma coisa
de importante existia por debaixo deste solo", diria qualquer
um de nós que lesse uma dessas obras literárias a cem anos atrás.
Historiadores como Júlio Feydith e Alberto Lamêgo, citaram em
seus livros as primeiras impressões deixadas por estas plagas
e todas elas dão conta de que a região seria mesmo próspera e
promissora. Em 1886, o explorador Manoel de Araújo Guimarães,
enviou ao Ministério da Agricultura requerimento expondo sua intenção
de explorar carvão de pedra nas margens do rio muriaé. Apesar
da liberação concedida pelos membros da Comissão de Negócios da
Câmara Municipal de Campos, Lacerda Tancroso e Dr. Thomás Coelho
de Almeida, não se tem maiores informações sobre o resultado comercial
de tal exploração. Não resta dúvidas entretanto que fatos como
este, tenham causado várias imigrações de caçadores de minérios
para esta região e com isso iniciado a formação de nossa atual
condição de centro de exploração mineral. Nos idos de 1872, para
cá teriam se lançado homens ávidos por novas riquezas e dotados
de senso desbravador. 2 Para se chegar a essa região, o percurso
era facilitado pela possibilidade de se navegar em boas condições
pelo rio muriaé ao invés de se enfrentar caminhos rudimentares
e trilhas por entre densas matas e emaranhados de cipós.
Mas logo ao atingirem Cardoso Moreira, não havia outro meio de
se chegar à terra do mármore. Daí prá frente é que começavam a
aparecer as corredeiras e fortes cachoeiras.
Início da construção da
ponte em 1940
Este aspecto encontrado pelos nossos pioneiros desbravadores assim
que atingiram nossa região, deu origem ao primeiro nome que Italva
recebeu :"Santo Antônio" porque toda essa área pertencia à Freguesia
de Santo Antônio dos Guarulhos e "cachoeiras" devido a alteração
caudalosa encontrada no rio até então considerado por eles de
curso manso. Assim foi que em 06 de novembro de 1873, por Lei
Provincial nº 1.937, nasceu a Freguesia de Santo Antônio das Cachoeiras.
Começavam-se as descobertas de jazidas de calcário e propalava-se
a extração de carvão nas margens do rio muriaé. Com isso muitos
aventureiros para cá se deslocavam mas muitos desistiam pela dificuldade
em encontrar mão de obra, pois as fazendas de café e cana de açúcar
locais, adotavam o mesmo sistema do país inteiro: a mão de obra
escrava e os donos de engenhos castigavam os desertores ou quem
aceitasse as ofertas dos "forasteiros".. Isso mesmo.
SANTO ANTÔNIO DAS CACHOEIRAS
Santo Antônio das Cachoeiras não ficou fora desse marco negativo
na história do Brasil. Aqui também prevaleceu a escravidão até
mesmo depois da Abolição em 1888. Provas concretas dessa prática
por aqui nós encontramos não só nos velhos galpões do Casarão
da Fazenda Experimental (hoje sede da Prefeitura) ou nos destroços
da antiga casa de D. Amélia Motta, em Cachoeira do Caboclo, mas
também em relatos de pessoas que conviveram com escravos que aqui
permaneceram após o tardio reconhecimento de seus "senhores".
Na antiga Fazenda de Santa Luzia, atualmente Coleginho (São Pedro),
ocorreu um caso contado ao Sr. Manoel "Adão" do Nascimento, por
um velhinho de 120 anos, de quem ele não se lembra mais o nome,
no qual um escravo teria se refugiado dentro de uma caieira durante
a noite e na manhã seguinte, foi involuntariamente queimado por
um grupo de homens que ateou fogo no forno. O mal cheiro que exalou
momentos depois, denunciou a presença do corpo. Ao ser comunicado
do fato, o dono da fazenda ordenou aos seus homens que não espalhassem
a notícia, caso contrário teriam o mesmo destino. Tal atitude
deu-se pelo fato do fazendeiro ainda estar mantendo em cativeiro
seus escravos mesmo sabendo da Abolição concedida pela Lei Áurea
em todo o Brasil. Na memória dos mais velhos moradores de Italva,
ainda permanecem acesas lembranças não só como essas, contadas
a eles por velhos moradores de Santo Antônio das Cachoeiras, como
também algumas alcançadas por eles próprios. Mais adiante, por
volta dos anos 40, vocês conhecerão a história de um escravo de
nome Fidélis que por aqui nasceu no ano de 1860. Também viveu
aqui muitos anos após a Abolição um escravo de nome Amâncio, popular
"Amancinho", que dizia ter nascido em 1880 em outras terras. Ele
morreu aos 95 anos com uma lucidez invejável e mostrava com precisão
os pontos onde se empregava a mão de obra escrava na região. Estas
suas narrativas repassadas até os dias atuais pelos mais velhos,
somados a outros depoimentos e obras consultadas, são documentos
importantes de nosso passado. No livro "Subsídios para a formação
da História de Campos dos Goitacazes", o escritor Júlio Feydit
relata a realidade do nosso atual município nos anos 1880/90 da
seguinte forma: "...a pedreira de cal que está mais perto da cidade
de Campos se encontra à distancia de 62 Km, às margens do rio
muriaé. Foi seu primeiro explorador o alemão Mateus Tannes. Por
morte dele tocou-a sua filha Justina de Tannes. Esta, vendeu-a
a João Machado de Siqueira. Falecido este, coube uma partilha
a uma filha que a vendeu a João Cardoso Moreira, passando a seus
herdeiros". Havia uma segunda pedreira que se situava em áreas
que hoje não pertencem a Italva e uma terceira que ficava acima
do porto das barcas em frente a Estação. Muitas outras pedreiras
existiam na região, abrangendo uma área de 32 Km. Aqui estavam
as maiores jazidas da rica pedra de onde fabricava-se a cal que
era exportada e empregada na fabricação 3 do gás de iluminação
e outra parte vendida aos fazendeiros para limparem o caldo de
cana na fabricação do açúcar. Como pode se notar, esta região
que hoje compõe o município de Italva, desde os seus primórdios
foi peça fundamental no desenvolvimento de todas as regiões adjacentes.
A
VISITA DE D. PEDRO II
Sua importância era de tão alta relevância que no dia 24 de Novembro
de 1878, ao passar por aqui a caminho de Carangola, para a
inauguração da Estrada de Ferro, o Imperador D. Pedro II foi informado
de suas riquezas minerais e aceitou um lauto almoço oferecido
a ele e sua comitiva, tendo descido na Estação recém construída
e permanecido por quase duas horas no local. Como pode-se notar,
esta região que hoje compõe o Município de Italva, desde os seus
primórdios foi peça fundamental no desenvolvimento de todas as
regiões adjacentes. Sua importância era de tão alta relevância
que no dia 24 de Novembro de 1878, recebia a visita do 
Vista do centro de Italva - 1950
Imperador D. Pedro II e sua comitiva, tendo estes sentido o desejo
de conhecer tão rica terra de onde será extraída tão precioso
mineral. A eles foi oferecido um lauto almoço no prédio onde se
inaugurava a até hoje erguida, porém desativada, Estação Ferroviária.
Neste período, o número de habitantes não ultrapassava meio milhar
e as casas
escondiam-se umas das outras por entre os pântanos e a longas
distâncias. Estes números entretanto não chegam a ser insignificantes
uma vez que no mesmo período, em todo o Brasil, haviam apenas
10 milhões de pessoas. Não foi difícil o acesso de nossos primeiros
exploradores ás fontes de nossas riquezas uma vez que, quando
aqui chegaram, muitas clareiras já haviam sido abertas pelos índios
que aqui habitaram (Tupi-Guarani), porém precisou-lhes muita coragem
e sofrimento para suportarem inúmeras doenças causadas por insetos
e parasitas que aqui proliferaram em abundância devido ao habitat
ideal que lhes proporcionavam a constituição climatológica e pedológica
de nossa região. Situadas em meio a elevações e aclives alicerçados
por milhões de toneladas de de pedras, nossas terras pouco absorviam
as águas das chuvas e isto causou a formação de várias lagoas,
brejos e pântanos por toda a parte. Este fator somado ao clima
quente e úmido predominante e um total pluviométrico que se supõe,
seria de mais de 2 mil mm anuais, contribuía para o alastramento
de terríveis epidemias que acabaram por levar muitos de nossos
antecessores.
ANTIGOS PATRIMÔNIOS FOTOGRAFADOS RECENTEMENTE

Casa de Amélia Mota na localidade de
Cachoeiro do Cabloco

A Roda D'água ainda
hoje próximo à casa de Amélia Mota
|
Parte
4 - PERÍODO REPUBLICANO - DISTRITO
Assim
como em todo o país, a Proclamação da República provocou em Italva
diversas mudanças de ordens política e social. Inicia-se após
este acontecimento, a verdadeira arrancada desta região para o
progresso. Com dezenas de Fornos de barranco ou "de campanha",
(como eram chamados os queimadores de pedra cavados nas encostas
dos morros ) em pleno funcionamento, não sò começavam a brotar
nossas imensas jazidas de
Esquinas das ruas Portela Salles e Olívia
Faria onde se vê o prédio da Igreja Batista Central,
terreno onde hoje existe o C.M. Glicério Salles e a agência
do Banco do Brasil - 1950
calcaréo como desenfreava-se em toda parte um vasto desmatamento
provocado pela chegada cada vez maior de novos moradores e principalmente
para a obtenção da lenha usada no carregamento dos fornos. Gastava-se
por vêz 210m3 de lenha e produzia-se num forno de proporções médias,
90 toneladas de cal que eram levadas na sua maior parte, em lombos
de burros, para a cidade de Campos. Com a chegada da ferrovia
pelo lado direito do rio Muriaé, oposto às grandes jazidas, tornou-se
necessário a criação de um sistema de ligação entre as duas margens
do rio, aparecendo então em maior número, canoas reforçadas que
dariam, alguns anos depois, origem às tradicionais barcas do "seu"
Honorato. Mas não só as pedras impulsionavam a então Freguesia
de Santo Antônio das Cachoeiras. Enormes lavouras de café começavam
a se formar em grandes fazendas espalhadas pelos arredores e algumas
até já produziam, ainda em pequena escala. Também a cana-de-açucar,
já a muito difundida em Campos, ocupava grandes extensões das
terras dos fazendeiros locais, em sua maioria, descendentes de
suiços que naquela época já imigravam para a região serrana do
Estado e muitos deles se instalaram em Aperibé, de onde ao tomarem
conhecimento das perspectivas econômicas da nossa Freguesia, para
cá se deslocaram. A estes imigrantes deve-se hoje a presença de
tipos loiros e de olhos claros em meio a nossa população, traços
muito característicos da família Salles, que teve participação
ativa na formação de nossa história e cuja geração já atinge o
seu 5º grau. Brancos, negros, pardos e morenos também se destacaram
na formação desta terra fazendo com que o fator raça na sua expressão
étnica não definisse nenhuma delas como a mais importante, mas
sim, na sua expressão de coragem e luta, destacasse todas como
fundamentais para que no dia 10 de agosto de 1891, Santo Antônio
das Cachoeiras, por Deliberação Estadual, fosse classificada como
10º Distrito de Campos dos Goitacazes.
PRIMEIRAS
ESTRUTURAS ADMINISTRATIVAS
Para cá vieram o primeiro Juiz de Paz, Jerônimo Lemos e o primeiro
Escrivão, Feliciano Lopes dos Santos Viana, instalando-se o Cartório
de Registro Civil em São Pedro Paraíso, que além de atender a
localidade, cuidava ainda dos registros de Boa Ventura e Córrego
da Chica, lugarejos situados dentro da Freguesia de São José do
Avhay, hoje Itaperuna. Não fosse o descaso, mais tarde relatado,
de algumas autoridades que assumiram nossas causas fundiárias,
estas duas áreas prósperas estariam incorporadas ao nosso Município.
À partir da criação do Cartório torna-se mais fácil trilhar os
rumos histáricos de Italva. Uma pesquisa minuciosa feita em todos
os livros até o ano de 1900, mostrou que duas outras grandes famílias
dividiram os quase 300 km2 de terra que o distrito possuía na
época. Sobrenomes de Monção e Romano são uma constante no livro
nº 02 de Escritura de compra e venda de imóveis (entre 1893 e
1896). Apesar do nome Monção estar mais voltado para o português
ou o espanhol que também imigraram para cá, é dada a eles por
descendentes atuais, origem francesa. (Romanos ?) Como exemplos
destas famílias podemos citar os nomes de: Vicente Antônio da
Costa Romano, que se destacou como Escrivão de Paz na época; Germano
José Monção, Sebastião José Monção e Joaquim José Monção, latifundiário
rico e generoso...entre outros ancestrais de valorosos italvenses
de hoje. Toda essa miscigenação, deu aos nossos primórdios, um
clima de confraternização onde todos procuravam se integrar em
busca de um ideal singular que era o crescimento cada vez maior
desta terra, ainda uma bucólica paisagem mas que, habitada por
aguerridos homens e mulheres incumbidos ainda de sua desbravação,
tinha suas tardes de festas e comemorações. O primeiro registro
de um desses momentos que caracterizou também o cruzamento de
raças diferentes, se deu oficialmente no dia 11 de abril de 1891,
quando o casal Joaquim Brasil de Aquino e Maria Pinto de Azevêdo,
ele de origem portuguêsa, concedeu a "mão" de sua filha Francisca
Brasil de Aquino, 19 anos, a Francisco de Salles Ramalho, 28 anos,
filho de Pedro José Ramalho e Delfina Maria Ramalho, lavradores
de descendências alpinas. Nessa época o casamento não tinha um
cunho tão voltado para o social como agora. A união do casal significava
acima de tudo, um compromisso para com a multiplicação, não só
dos filhos, mas também dos dotes recebidos. Mas os bailes eram
inevitáveis. No dia 02 de março de 1891, inaugurando o Livro de
Nascimentos de nosso Cartório, o negociante Manoel Alves Dias
Pessanha, solicitava ao Escrivão Feliciano Lopes, o registro de
uma criança do sexo masculino, de cor branca, filho do lavrador
Leão José Ribeiro Salgado. A falta de meios de transporte adequados
e as más condições das

Trecho da Estrada do Lagarto, hoje rua São
Sebastião - 1940
estradas, retardara a comunicação no dia exato do nascimento
que se dera em 06 de fevereiro do mesmo ano às seis horas da manhã.
A mãe, dona Maria Virgínia da Conceição, tivera parto normal em
sua residência no lugarejo denominado de "Buraca" (hoje Pimentel),
na Freguesia de Santo Antônio das Cachoeiras. Ao menino foi dado
o nome de Manoel dos Reis Ribeiro Salgado. Casamentos, nascimentos,
muito mais que motivos de festas, eram importantíssimos passos
para a formação de nossa sociedade. Uma sociedade que já começava
a ser intimada para opinar sobre os assuntos políticos de seu
distrito. Uma sociedade que, apesar de ainda sob forte influência
dos grandes "senhores" e "coronéis", tinha o direito de ser também
consultada na hora da escolha de seus representantes junto ao
município de Campos e ao Estado do Rio de janeiro.
A
PRIMEIRA ELEIÇÃO
Assim, em 16 de junho de 1892, os eleitores cadastrados no Distrito
de Santo Antônio das Cachoeiras, em torno de cem, foram convocados
para a eleição dos Vereadores Gerais, Distrital e o novo Juiz
de Paz. Na residência de D. Maria Pinto da Conceição Ribeiro,
onde funcionava uma escola mista, no lugar denominado Barra Sêca,
foi instalada a 1ª Seção Eleitoral do Distrito. Ali foi colocada
uma grande mesa sob a qual estavam a urna, o Livro de Assinaturas
e o Livro de Ata da Votação que seria transcrito no Livro do Cartório.
Em torno da mesa tiveram assento o Presidente da Seção, Manoel
Antônio Ribeiro de Castro, o Fiscal José Alves Torres Júnior e
os auxiliares Manoel José Ribeiro de Azevêdo, Jerônimo Gomes da
Silva, Oscar da Costa Pereira e José Mendes da Silva.
O presidente designou o membro Oscar da Costa Pereira para secretariar
a votação e redigir a ata e o membro Jerônimo Gomes da Silva para
fazer a "chamação" dos eleitores, o que foi cumprido às 10:00h
da manhã. Precisamente às 14:00h, foi concluída a votação e registrada
a presença de 66 eleitores. O secretário passou então, em voz
alta e na presença de todos, a ler o resultado que foi o seguinte:
? Para Vereadores Distritais: Júlio Feydit - 53 votos Jerônimo
de Souza Mota - 52 votos ? Para Vereador Distrital: Faustino Ribeiro
da Silva - 52 votos José Antônio da Silva Sanches - 14 votos ?
Para Juiz de Paz: Caetano Pinheiro Ribeiro S. Azevêdo - 54 votos.
? Uma cédula de votação para Vereadores Gerais ficou em branco.
Obs.: Se houve ou não falha ou "fraude" na apuração, foram estes
números que o secretário Oscar da Costa Pereira divulgou e transcreveu
para o Livro do Cartório. Mais tarde as eleições passaram a ser
realizadas na casa de D. Maria Cardoso, na Estação de Cachoeiras
(ex-Santo Antônio...) e posteriormente na Estação de Cardoso Moreira,
onde morava o Sr. Artur Eugênio Torres. Final do Séc. XIX, Santo
Antônio da Cachoeira já com sua condição de terra promissora,
continuava a crescer a cada dia e seus habitantes apesar de espalhados,
distantes uns dos outros, permaneciam próximos no ideal de que
o século seguinte iria trazer à tona uma riqueza muito grande
que esperava pelos investidores e que estava sob seus pés, como
que a descansar por sua longa formação geológica ou envergonhada
por se mostrar tão alva diante de um povo bronzeado por sua
labuta sol a sol.

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