
..Italva
- Estado do Rio de Janeiro .......................................................................História
do Município de Italva - Página 2 |
Parte
5 - ENTRADA NO SÉCULO XX
O
séc. XX sem dúvidas, foi o marco da modernização no mundo inteiro. Foi
a transição do arcaico para o sofisticado. Do empírico para o científico,
enfim... foi a concretização de muitos planos previamente arquitetados
pelo homem. Italva por sua vez, nem planejada ainda estava. Desde essa
época não havia uma preocupação com sua organização urbanística e as
grandes propriedades impediam sua expansão predial, fazendo com que
as moradias se espremessem nos arredores distantes das margens do rio
onde se concentrava seu movimento maior. Como veremos mais
foto - construção
da ponte na década de 1940
adiante, esse quadro poderia Ter mudado definitivamente a imagem atual
de Italva não fossem quatro fatores primordiais: a localização da Estação
de Trem, a abertura da estrada do Lagarto, a dificuldade para se chegar
ao lugarejo de Conceição e a invasão discreta, sorrateira e despercebida
das terras próximas ao rio Muriaé pelos moradores que vinham trabalhar
e ali se fixavam em troca de trabalho para os fazendeiros ( muitos recebiam
dos exploradores de pedras para não "mexericarem" os novos vizinhos).
Em todo o Estado essa região despertava algo de promissor a quem dela
ouvisse falar ou por aqui passasse, fosse no lombo de um animal ou numa
das luxuosas categorias do Expresso Raywails. No trajeto de Campos dos
Goitacazes até aqui, já dava para perceber que o progresso seria inevitável.
A monocultura canavieira que se apresentava do lado de fora dos vagões
aos olhares dos passageiros, dava lugar, tão logo o trem adentrava Santo
Antônio das Cachoeiras, a uma diversidade de lavouras que iam de robustos
cafezais até viçosos algodoais que sobressaiam-se nas encostas como
que competindo em beleza com as enormes várzeas de onde brotavam densos
arrozais com seus cachos imponentes. Milharais compactos dançavam ao
embalo das monções e vez por outra se
retorciam pelo soprar dos ventos fazendo revoar bandos de pássaros abundantes
nestas plagas. Aliás, eles contribuíam em grande parte na colheita dos
cereais, até que chegasse por aqui a "técnica" do espantalho. Mas o
que chegava mesmo, eram novos habitantes que em sua maioria iam se instalando
em propriedades distantes do hoje centro da cidade. Assim foi que, no
ano de 1901, novos colonos aqui chegaram vindos das bandas de Cambuci
e Aperibé. Dois deles, Francisco Falcão Artiles e João Almeida Mérida
Ilhada, compraram nove alqueires de terra da família Monção e iniciaram
nova vida. Soube-se na ocasião que eles queriam, assim como outros que
vieram depois, uma vida mais tranqüila e segura para prosperarem, o
que não estavam conseguindo onde moravam
foto - Rua Francisco José esquina com Olívia
Faria - ao fundo a antiga Estação
devido ao aparecimento de um "Grupo da Morte" por lá e que, acusados
ou perseguidos, muitos teriam se refugiado em outras localidades. O
importante é que com toda essa imigração mais a reprodução de seus próprios
habitantes, Santo Antônio das Cachoeiras continuava crescendo, apesar
de, apenas nos arredores, ou seja, nas propriedades situadas nos atuais
distritos. Na área onde hoje está instalada a Sede do Município de Italva,
haviam três grandes fazendas que formavam uma densa mata entrecortada
de brejos e divididas pelo rio Muriaé. Uma na margem direita, da família
Salles, e duas na margem esquerda: ao norte, da família Castro e ao
sul, da família Mota; outras propriedades haviam, porém de menor extensão
e na maioria dos casos eram arrendamentos destes próprios latifúndios.
Remanescentes daquela época afirmam que o atraso da povoação na área
que hoje é zona urbana do município, se deve exatamente a essa monopolização
fundiária. Por outro lado, pesquisas nos mostram que se houvesse um
rio Muriaé na localidade de Conceição, lógica e fatalmente que lá é
que seria hoje nossa Sede Municipal. Afinal, tudo girava em torno desse
lugar. Foi lá que construíram a primeira Igreja Batista em 1910. Para
lá é que iam os rapazes da época para dançar e se divertir. Enfim...o
centro das atenções sociais e religiosas era a localidade de Conceição.
Em 1911, na Divisão Administrativa do Brasil, o distrito passou a figurar
nos livros de registros com a denominação simplificada de Cachoeiras
e muitos afirmam que um dos motivos foi a pressão da igreja Batista
recém fundada em Conceição para se retirar o nome de Santo Antônio.
Seis anos depois, em ...1917, decidiu-se manter pelo menos o nome do
rio, e através do Decreto...o
lugar passou a chamar-se Cachoeiras do Muriaé. Nessa época já era intensa
a exploração de nossas jazidas de calcário, porém de forma rudimentar.
Por toda a região haviam fornos para a queima das pedras e sua transformação
em cal. Estes fornos, como já dissemos, eram cavados nas "abas" dos
barrancos muitas vezes próximos às pedreiras e tinham, quando abastecidos,
o formato de uma torre de igreja encravada nas encostas. O carregamento
de um forno de proporções médias levava de 15 a 20 dias de 10 horas
de serviço cada um. As pedras eram empilhadas umas sobre as outras com
todo cuidado para que ficassem bem encaixadas e não desmoronassem. Na
base do forno havia uma vala que servia de cinzeiro e sobre a qual arrumava-se
a lenha que seria incendiada após ser embebecida com querosene. A queima
durava 5 dias de 24 horas cada. Além de produzir cal, os fornos também
produziam
muitos "causos", como o que nos contou D. Fidelina Moreira (1910-
......................................................................................................Família
Salles tendo ao meio o Cel. Luis Salles
1992), que residiu muitos anos ao lado de um deles - "...assim que as
pedras esquentavam, soltavam muita água e isso causava um enorme fumaceiro
que fazia a gente sair de casa para não morrer sufocado. Uma vez morreram
20 galinhas minhas que estavam trancadas no galinheiro e os porcos a
gente tinha que abanar, porque a fumaça do forno era que nem névoa.
Vinha rasteira e não levantava". Findados os 5 dias de queima, esperava-se
9 dias para que o forno esfriasse e em seguida, mais 12 dias para descarregá-lo.
O ritual era o mesmo por toda a parte, com carros de bois e burros de
carga percorrendo as trilhas que levavam o produto até os vagões do
trem ou às vezes nas margens do rio de onde acabavam de chegar à estação
transportado por ligeiras canoas tracionadas por hábeis remadores. Apesar
de toda essa movimentação por aqui, em 1923, a sede do distrito, por
força da Lei Estadual nº 1.794, foi mudada para a localidade de Paraíso
(São Pedro), porém a Freguesia de Cachoeiras do Muriaé monopolizava
todos os movimentos progressistas do lugar. Sua Estação era ponto de
parada obrigatória dos trens que iam e vinham entre Campos e Carangola
e por aqui constantemente passavam homens letrados e evoluídos que foram
deixando seus rastros culturais até que os primeiros sinais do Séc.
XX aqui chegaram trazendo coisas dos "ômis grandis lá de baixo", como
comentavam nossos antepassados. Entre os anos de 1925 e 1926, surgiu
aqui o Jornal do Esporte, um semanário escrito à pena e que retratava
os lances dos jogos de futebol dos rapazes da época. Seus idealizadores
eram duas, entre raras, exceções que sabiam ler e escrever. O primeiro
deles era o Sr. Diógenes Campos, casado com a primeira professora estadual
que aqui lecionou, D. Rosita Muylaert Campos, irmã do Dr. Aldo Muylaert,
patrono do atual IEPAM, de Campos. O outro " jornalista " era o Sr.
Manoel do Nascimento, mais conhecido por Manoel Adão. E foi ele quem
nos contou - "...o jornalzinho fazia o maior sucesso na época. Sempre
que a gente espalhava no porto ou na estação de trem os dois números
que escrevíamos, juntava um grupo de
foto - canoeiros fazendo a atravessia de pessoas e
blocos de mármore em 1944
rapazes em torno de algum que sabia ler para ouvirem o que estava escrito
sobre os seus times ". Campo de futebol é o que não faltava na região.
O esporte era o lazer preferido dos jovens cachoeirenses, além dois
bailes de acordeon. Estes homens entretanto tinham também seus momentos
de tristeza e violência. Consta nos anais da época uma tragédia ocorrida
na divisa com Cardoso Moreira (ao lado da casa onde aconteceu a primeira
eleição, lembra-se ?) no ano de 1927, quando a residência de Amaro Pinto
da Silva foi incendiada pelo lavrador Manoel Barbosa. Ao sair de casa
fustigado pelas chamas que a tudo devorava, Amaro Pinto foi alvejado
pelo incendiário ficando gravemente ferido. Este acontecimento fez com
que vários moradores de Cachoeiras do Muriaé tivessem suas residências
vasculhadas por policiais que para cá vieram a procura do criminoso.
Mulheres e crianças não saíam de casa sozinhas nem para ir ao quintal.
Uma delas foi violentada por um "cabo" que, para não ser linchado, teve
que voltar para Campos dos Goitacazes com sua tropa sem capturar Manoel
Barbosa que desapareceu. Com tantos fatos aparecendo e ainda a instabilidade
política pela qual começava a atravessar o país inteiro devido às ameaças
de Revolução, nada mais justo do que Cachoeiras do Muriaé ter seu órgão
de imprensa ampliado e mais abrangente. Assim foi que os mesmos idealizadores
do Jornal dos Esportes criaram nas mesmas circunstâncias (sem impressão
gráfica; escrito à pena), "O Mexerico". Um jornal que trazia para cá,
fatos políticos ocorridos no Município e capital do Estado. O Mexerico
relatava ainda acontecimentos locais envolvendo a classe mais jovens
e novos adeptos começaram a surgir e se interessar pela idéia de "seu"
Manoel e "seu" Diógenes. Depois do primeiro número redigido, formou-se
em 1929 um grupo de rapazes cultos e bem informados do local (muitos
possuidores de rádio) e entre eles foi rateada a despesa para a impressão
de um novo jornal na Freguesia de São José do Avhay, despesa esta de
40$00 (quarenta réis) por semana. Escolheu-se um nome bem sugestivo
e decente ( Mexerico era sinônimo de fofoca) e dias depois o trem chegava
na Estação de Cachoeiras do Muriaé trazendo a primeira edição impressa
de "O Parafuso". De plantão na plataforma, lá estavam desde cedo, os
orgulhosos redatores esperando o resultado de várias noites "em claro"
reunidos para a redação das notícias colhidas. Eram eles: Além de "seu"
Manoel Adão e "seu" Diógenes, o irmão do primeiro, Mário Nascimento,
Américo Brêtas (que vinha de Conceição só para esperar a chegada do
jornal), Francisco Mercadantes (chefe da estação), Francisco Dantes
Carneiro (farmacêutico morador de Cardoso Moreira), Glicério Salles
(mais tarde escrivão), Manoel Pinto (gerente da Usina de São Pedro),
Nildo Paes (dono do único "correio de casas" que existia na margem esquerda
do rio) e Irineu Marins, amigo do Dr. Aldo Muylaert, que logo em seguida
voltou para Campos. O jornal circulou durante 8 meses e foi, enquanto
existiu, importante elo de integração social em nossa região que ainda
estava discretamente dominada por certas distinções "coronelistas".
Em 1930, eclodiu no país o movimento revolucionário que depôs o presidente
Washington Luis e iniciou-se o primeiro mandato de Getúlio Vargas. Muita
coisa mudou no Brasil à partir desta data e essas mudanças surtiram
efeitos também aqui. Além disso, concluímos que a Revolução de 1930
contribuiu para o desenvolvimento sócio-cultural de nossa gente, além
dos importantes passos dados pelos nossos pioneiros "redatores". Curiosos
para saberem de tudo que se passava nas grandes capitais, os homens
da época
foto - rua Ana Aguiar por volta de 1948, atualmente
conhecida como a rua do Clube
comprimiam-se na hora dos noticiários em volta de um radinho ( objeto
que, os poucos que haviam por aqui eram de donos de armazéns e fazendeiros
) e após tudo ouvirem atentamente, discutiam entre si, seus pontos de
vista. Isso contribuiu para o desfecho de uma fase de suma importância
para nosso lugar, pois, os grandes fazendeiros, as famílias de melhores
condições financeiras, levados pelos fatos políticos e sociais de que
iam tomando conhecimento, passaram a investir na formação de seus filhos
em escolas da Capital e na Sede do Município de Campos. Esses jovens
começaram a descobrir novos horizontes e a adquirir novos conhecimentos
nas áreas de Medicina, Advocacia, Formação de Professores e principalmente
nas carreiras militares, enfim...começaram a trazer para cá aquilo tudo
que antes só era possível se ouvir falar. Os métodos arcaicos utilizados
nos medicamentos e na alfabetização de nossa gente, começaram a mudar
com a formação dos primeiros normalistas. Os problemas de terras, muito
comuns, e que recaíam sobre a total responsabilidade do Escrivão e do
Juiz de Paz, já tinham soluções jurídicas mais diplomáticas, com diálogo
e explicação. Começaram a surgir os militares formados no Exército e
iniciou-se a decadência dos "coronéis de boca", cujos títulos eram adquiridos
mediante suas posses financeiras. Claro que a mudança não foi logo no
início dos anos 30; esta década inteira preparou esses resultados. Muitos
que os assistiram ainda vivem e depositam nesta obra seus depoimentos
comprobatórios. Foi no início desse período que surgiu um nome para
este lugar que, depois do atual, é o que mais ficou marcado. A antiga
Freguesia de Santo Antônio das Cachoeiras, depois apenas Cachoeiras
e mais a frente Cachoeiras do Muriaé, passou a chamar-se Monção, no
dia 29 de Dezembro de 1930, pelo Decreto Estadual nº 2.529. Segundo
remanescentes da época, esse nome se deve a um fazendeiro chamado
Joaquim Monção, dono das terras onde foi construída a partir de 1926,
a Estação local. E em sua homenagem, foi escrito o seu sobrenome na
fachada do prédio, tendo a empresa ferroviária incluído em seus livros
de registros as paradas do trem na "povoação" de Monção. Outra versão
também muito lógica, atribui a este nome o fato da região ser de clima
bastante agradável devido as monções que sopravam por todo o vale ao
cair da tarde. Esse fator climatológico teria inspirado os homens cultos
da época e estes, por sua vez, teriam proposto a mudança de nomenclatura.
De qualquer forma, iniciava-se novo período a partir de Monção. Imigrantes
sírios, libaneses, ate então isolados nas áreas rurais da sede do distrito,
começaram a desencadear uma verdadeira corrente migratória desde as
localidades mais próximas como
foto - antigo Bar do Edú, local onde foi construída
a Praça da Matriz
Tabua e Valão dos Bois ate as mais longínquas como Pádua e Miracema,
estas já prosperas localidades. E esta prosperidade acompanhou estes
"turcos" que para ca vieram, dando início a instalação de várias casas
comerciais em Monção, até então abastecida por um único armazém de propriedade
dos fazendeiros Djalmo Motta e Davo Romano; um bar do "seu" Nildo Paes;
uma padaria do "seu" João Romano; uma loja de ferragens e fazendas de
Francisco Finochi e uma farmácia no Morro Grande do "coronel" Luís Salles
Ferreira. Outras casas comerciais haviam, porém, espalhadas pelas localidades
de Peroba ( de Antônio Miguel ), Cachoeiro ( Bento da Silva Pinto ),
Paraíso (Edil Campos, Ermano Pettersen, Joaquim Sabino & Irmãos, Eduardo
de Carvalho e Francisco S. Rangel Júnior ), Duas Barras (Manoel João
da Silva, Euclides José do Carmo, Belchior Rangel de Azevedo ), Maribondo
( Miguel Monção, José Higino Silveira, Jerônimo Fernandes da Silva,
Manuel Flausino, Felipe Tames, Jorge Mansur, Francisco Dantes Carneiro
), Itaipabas (Antônio Guerra Martins ), São João da Cruz (José Joaquim
de Castro Leão) e algumas pequenas "paradas" para bebericarem após o
serviço e comprarem o querosene tão necessário em todas as residências.
Também nessa época começou a se cogitar a necessidade de um meio de
transporte mais adequado para a travessia de grandes cargas no rio muriaé.
A movimentação cada vez maior de homens que iam e vinham de uma margem
a outra, as dificuldades no transporte das mudanças de novos habitantes
que chegavam e a descoberta, dias depois, de enormes jazidas de mármore
branco em toda a região do Lagarto (hoje Guarnéri) e São Joaquim (Cimento
Paraíso) pelos exploradores João Papaguerius e Enrico Guarnéri, mostrava
a eminência de se construir, senão uma ponte, pelo menos canoas maiores,
mais espaçosas, porque não uma Balsa ? Atento a tudo isso e "doutor"
na arte de marcenaria, um morador próximo da margem direita do rio,
de nome Honorato Reis, não teve dúvidas e lançou-se na construção de
uma enorme barca com 16 m de comprimento por 8 m de largura e em pouco
tempo, com a ajuda de um grupo de amigos e em meio a grande euforia,
ela foi lançada às águas do rio e atada a um possante cabo de aço fixado
nas duas margens com a finalidade de sustentá-la contra a correnteza.
Começava aí a integração desse lugar com a capital no Rio de Janeiro,
mais tarde com o Brasil e atualmente, até com o exterior.
Parte
6 - PÓS-REVOLUÇÃO
(DESENVOLVIMENTO)
Após a Revolução de 1930, conforme já iniciamos a citar, grandes mudanças
ocorreram nessa região. Entre as já citadas podemos acrescentar ainda
a nova mudança do Cartório de Paz, dessa vez para Monção e com isso,
a sede definitiva do distrito. Foram então empossadas as novas autoridades
do lugar, homens que marcaram muito em nossa história e foram personagens
de muitos acontecimentos em nossa terra. Seus nomes são comuns atualmente
para os italvenses, mas talvez poucos saibam quem verdadeiramente
está por detrás das denominações de algumas ruas e prédios da cidade.
Empossados no ano de 1931, Gabino Salles para sub-delegado de Polícia,
Raul Marinho para Juiz de Paz, Glicério Salles para Escrivão e Agenor
Villarinho para Fiscal Municipal de Rendas, eles desenvolveram por
muito tempo suas tarefas, para as quais foram designados, além de
outras, como no caso do incansável e sábio farmacêutico Raul Marinho,
tornande-se por isso, destaques ante seus antecessores. Muitas curas
verdadeiramente milagrosas são atribuídas pelos mais velhos, ao "doutor"
Raul Marinho. Apuramos ter sido o mesmo, de um carisma enorme em meio
aos nossos antepassados pelos seus cuidados médicos, mesmo que rudimentares,
mas eficientes para os casos surgidos. Tamanha dedicação valeu-lhe
a homenagem da Câmara Municipal de Campos, que aprovou a indicação
de seu nome para uma de nossas atuais ruas, assim como o nome de seu
pai, José Luis Marinho. Gabino Salles como autoridade policial, conseguiu
impor a ordem e o respeito na localidade, mesmo que para isso, tivesse
que usar de certa violência em determinados casos. Desvendou vários
crimes na região e mandou para a prisão em Campos, vários bandidos
que perturbavam a tranquila e pacata Monção dos anos 30. Era homem
de fibra e coragem, porém diplomático em seus argumentos com os delinquentes.
Não se importava em amarrar os mais exaltados em correntes e argolas
no porto da barca até a chegada do trem que os levaria para Campos,
entrtanto sabia tratar dos mais humildes que por ventura se viam obrigados
a fazerem justiça com as próprias mãos antes de sua chegada. E assim
como ele, esta terra teve outros valorosos delegados como por exemplo
Sebastião "Corisco" e mais recentemente, Agenor Batista. Glicério
Salles, ao assumir o Cartório local como Escrivão, no dia 24 de março
de 1931, em substituição a Adalberto Soares Martins, enfrentou uma
série de problemas por Ter assumido numa época de grandes negociações
de terras, muitas das vezes bastante complicadas, como no caso de
Escrituras "assinadas" por defuntos, que consistia na prática de segurar
a "pena" nas mãos do cadáver do proprietário para simular sua assinatura
ou simplesmente, "fichar" o seu polegar no papel. Nessa época, os
grandes latifúndios aqui existentes, começavam a se dividir em pequenas
propriedades e muitas das vezes, ele precisava se deslocar até a casa
dos compradores ou vendedores para presenciar o fechamento das negociações
e evitar tais práticas, o que nem sempre era possível devido às longas
cavalgadas pelos trilhos abertos nas matas... Agenor Vilarinho, como
Fiscal Municipal em Monção, também teve muito trabalho na organização
e cobrança de impostos nessa região assim como, também foi intermediário
de inúmeras desavenças ocorridas entre posseiros e arrendatários.
Apesar de recair sobre ele a perda da posse das localidades de Boa
Ventura e Córrego da Chica (por ser longe de Monção para dar assistência
à cavalo periodicamente, ele permitiu que um fiscal de São José do
Avhaí fizesse os recolhimentos dos impostos), cabe a ele entretanto,
a integridade de nossos limites atuais. Por volta de 1933, o distrito
ao todo, tinha bastante casas e estimadamente pouco mais de dois mil
habitantes; o povoado de Monção entretanto, possuía apenas pouco mais
de uma dezena de casas na margem esquerda do rio e menos que isso
na margem direita. Os fins de semana porém, eram muito animados, com
gente que vinha de todos os lados para assistir as retretas no "Coreto"
da capelinha ode hoje está a Matriz Imaculada Conceição. 
A Capela que se transformou na Matriz Imaculada
Conceição
Recém construída num terreno doado pelo fazendeiro Djalmo da Motta,
mais conhecido como "Zizinho Motta", esta capelinha era o ponto de
referência do povo local. Em frente, havia uma grande praça que ia
do porto da barca até o "ponto da vala", local onde depois foi fundada
a primeira Escola Municipal de Monção, o Baltazar Carneiro. Não havia
a elevação que existe atualmente ao lado da praça da Matriz, pois
sem ponte, não havia estrada naquele local. E nessa imensa praça o
povo se reunia nas épocas de carnaval e quadrilhas e a festa varava
a noite a dentro. Em outras ocasiões, para não perder o pique, os
mais animados do lugar, liderados pelo "turco" Inácio "Cavalo", promoviam
serenatas nas casas dos vizinhos, às quais dava-se o nome de "surpresas",
já que todos chegavam em silêncio, sem aviso prévio e até com os comes-e-bebes
prontos. Dificilmente eram rejeitados e então transformavam o quintal
do escolhido em verdadeiro salão de baile. Aliás, todos se conheciam
e estes jovens dançarinos sabiam muito bem onde "armar" suas brincadeiras.
Existiam os protestantes, cuja igreja fora uma das primeiras a ser
construída em Monção, no lugar onde se localiza atualmente a Igreja
Batista Central de Italva, num dos poucos pontos não encharcados dentro
das terras da família Salles naquela área. Estes não eram visitados
pelas "surpresas", porém, podiam ouvir noite a dentro os sons da sanfona
e do pandeiro que ecoavam melancólicos pela vizinhança distante. |
Parte
7- A BALSA
Em maio de 1933, através de mais uma louvável iniciativa
do engenheiro João Paparguerius, que já

Foto - mostrando o centro de Italva no ano de 1952
plantara as primeiras sementes para o que seria a Fábrica de Cimento
Paraíso, chegava a Monção a tào esperada energia elétrica. Para a
instalação dos postes e a distribuição da rede, precisou-se de grande
colaboração dos donos de terras que teriam de ser usadas pela Companhia
de Eletrificação do Estado. Homens como Djalma "Zizinho" Motta e José
Joaquim de Castro Leão, logo se prontificaram para o atendimento às
cessões de terras necessárias.
Do outro lado do rio, também foi notária a colaboração dos Salles;
assim a primeira luz foi acessa sobre esta região e seus reflexos
parecem Ter sidos mais potentes que os raios do sol, pois exatamente
depois desse acontecimento, começaram a aflorar, começaram a despertar
do seio desse chão, imensas jazidas de um precioso mineral que logo
chamou a atenção de exploradores dos mais valorosos como a do próprio
João "Papa" Paparguerius que logo substituiu os fornos velohos de
cal por dois fornos pilotos de ação contínua na Fazenda São Joaquim,
hoje Cimento Paraíso e de homens ligados ao comercio exterior de mármora
como o engenheiro Enrico Guarnéri, que embrenhou-se pelo mato adentro
até a região de Lagarto, hoje, Guarnéri, e depois de certifircar-se
de que seu "faro"não o enganara, ali montou sua grande empresa dando,
juntamente com João "Papa", o impulso decisivo para o desenvolvimento
do lugar. Também o fundação da IMIL - Indústria de Mármore
Italva Ltda foi grande passo para o progresso local.
A partir daí, viu-se a grande utilidade da "barcaça" de seu Honorato
Reis. Peças de dezenas de toneladas chegavam na EstaçAo e eram arrastadas
até o porto onde, depois de, muitas vezes, escoradas até por latões
e bóias, a barca as conduzia até a outra margem. Nestas horas exigia-se
dos condutores da barca toda a perícia para que o pequeno percursso
não se tornasse uma tragédia. Aí entravam em cena remadores como o
saudoso Antônio Barcelos e o próprio "velho" Honorato, que empunhando
compridas varas de bambú intercalava suas forças com mais dois companheiros
na tração da grande barca fustigada pelo peso das estranhas peças
e pelas constantes revoadas das correntes que faziam os grossos cabos
de aço parecerem elásticos resistentes. Os canoeiros por sua vez,
faturavam alto com a travessia constante de novos técnicos que chegavam
da cidade grande e que não se importavam em dar um trocado a mais,
além dos 400$00 (quatrocentos réis) cobrados pela viagem. Esses novatos
eram chamados de turistas e assim que desciam das canoas, cavalos
previamente arriados os aguardavam para que prosseguissem a viagem
até as empresas. O trajeto para Lagarto era mais difícil pois havia
apenas um
Foto - mostrando a antiga Estação
Ferroviária em 1949
pequeno trilho entre a mata e os animais muitas vezes se assustavam
com seus desajeitados montadores e enfiavam-se mata adentro com os
turistas. Estes por sua vez, apelavam para a ajuda dos moradores locais
que acabavam tirando mais alguns réis do bolso deles por uma caminhada
até a empresa puxando o cavalo pelas rédeas. Um pouquinho hoje, mais
um pouquinho amanhã e lá se fazia até o necessário para 1kg de canjica,
que custava 400 réis, 1kg de sabão pelo mesmo preço ou 1kg de arroz
que custava 600 réis. Vendo a necessidade de se começar a exportar
os blocos que aos poucos iam sendo desgarrados do veio principal,
Enrico Guarnéri mandou então que se abrisse a estrada do Lagarto,
atual rua São Sebastião, por onde começaram a transitar enormes carretas
puxadas por 7 a 8 juntas de bois e que traziam cada uma, no máximo,
dois blocos inteiros. Com o passar do tempo e o aumento da exploração,
formavam-se grandes filas dessas carretas que começavam no porto e
iam até o forno do sr. Djalmo Motta ( onde hoje é a Itawagen.
Carretas utilizadas para o transporte de mármore
até o porto
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Ontem não era Italva,
mas sim, Cachoeiras do Muriaé, Santo Antônio das Cachoeiras, Purís e
Monção. Pequeno lugarejo com pouco mais de uma centena de famílias que
sobreviviam da agricultura e posteriormente do trabalho nas jazidas
descobertas pelas mineradoras que aqui se instalaram. A primeira delas,
a Enrico Guarnéri, localizou-se no lugar que ficou com o seu nome: Guarnéri;
e a segunda, em Vila Sào Joaquim, que mais tarde recebeu o nome da indústria:
Cimento Paraíso. Esta não só extraía como também beneficiava o minério
da região transformando-o numa das maiores economias da região: o cimento.
Muito antes desse período, a futura Italva já despertava curiosidade
no país pela sua riqueza mineral e fertilidade de seu solo, a ponto
de ser visitada pelo Imperador D. Pedro II em 1878, quando este por
aqui passava rumo à Carangola para inaugurar a Estrada de Ferro. E não
se poderia falar na Italva de Ontem sem lembrar das travessias de mármore
pelas barcas
do rio muriaé até que se construísse a atual ponte nos fins de 1940;
dos canoeiros que eram os verdadeiros "taxistas" da época, transportando
as pessoas de um lado para o outro, ou seja, das terras dos Romanos,
Mottas e Castros (na margem esquerda) para as terras dos Salles e Villarinhos
(margem direita do rio muriaé). A Italva de hoje surgiu em 1943, quando
este nome substituiu Monção. A partir daí o progresso foi inevitável
e muitas transformações aconteceram. As industrias mineradoras produziam
a todo o vapor, exportando para todo o Brasil seus produtos e
Foto - Canoeiros se despedem após a inauguração
da ponte em 1949
a agricultura e a pecuária se expandiram com a abertura da estrada
ligando Campos a Itaperuna através da ponte recém-construída. Não demorou
muito e logo os primeiros movimentos de independência começaram a aparecer.
Já por volta de 1960, falava-se na necessidade de se separar de Campos
dos Goitacazes. Em 1970 já havia uma Comissão pró-Emancipação e em 1986,
o sonho se realizou através da Lei 999/86, assinada pelo então governador
Leonel Brizola dando a Italva a sua conjuntura política atual. Eleitos
seu primeiro Prefeito e Vereadores, o já Município de Italva ganhou
vida própria e hoje é um dos mais destacados do Noroeste-Fluminense,
com uma população de aproximadamente 20 mil habitantes, numa área de
272km² e próximo a divisa de dois grandes Estados da Federação: Minas
Gerais e Espírito Santo. Atualmente sua principal economia é a pecuária,
e com o declínio da exploração mineral, o comércio varejista e as confecções
ganharam grande espaço entre a sua população, porém, oferecendo poucas
oportunidades de emprego para o, cada vez maior, número de moradores
que anseiam por instalações de grandes indústrias no município. Mas
sem dúvida nenhuma, a mais recente conquista dos italvenses, veio completar
a verdadeira emancipação desse povo, quando no ultimo dia 16 de setembro
de 1999, a Assembléia Legislativa do Estado aprovou a Lei 266/99, de
autoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, criando
a Comarca de Italva, a qual já estará funcionando no próximo ano beneficiando
todos aqueles que dependerem da Justiça para fazerem valer os seus direitos.
A Italva de hoje, alicerçada pelo pioneirismo dos habitantes da Italva
de ontem, ainda terá muitas conquistas para serem apresentadas.
Em 26/09/1985 o povo interdita a ponte com pedras ao saber que o
processo de emancipação havia sido arquivado pelo Supremo
Tribunal, em Brasília.
Em 05/10/1986,
volta a interditar a ponte, agora com uma patrol, ao saber que as eleições
já marcadas para 15/11/86 seriam canceladas. O movimento valeu
e as eleições aconteceram.
 
A ponte foi fechada
no início do dia 26 de setembro de 1985 por ter o STF julgado
improcedente o seu proceso de emancipação

O trânsito
foi interrompido na BR e
grande fila de caminhões e ônibus
formou dos dois lados da ponte
O caminhoneiro Nei
Jacaré despeja pedras sob a ponte antes
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